Ainda é festa Mebêngôkré na X Aldeia Multiétnica

17/07/2016 · Por Fernanda Verzinhassi

Fim de tarde, o período de Aldeia Multiétnica aberta ao público está acabando. Cada dia é dedicado à uma etnia e hoje é a vez dos Mebêngrôkré. Muita coisa já aconteceu: oficinas de flechas, arcos e esteiras com materiais tradicionais, homenagem com danças à parentes Kayapó de outros países, pintura corporal. E a festa continua. 

Os visitantes são convocados por um canto grave que ecoa do fundo do acampamento. Os cochichos de curiosidade do público despertam:

"Olha um ali, de celular!"

" Por que umas tão com aquele negócio amarelo e outras não?"

" Ali, na frente, são as mais velhas?"

Pode ser que sim, não é assim para todos nós? Os mais velhos na frente ditando o ritmo da dança e o compasso dos que os seguem, dos que os respeitam.

Os Mebêngrôkré caminham de mãos e braços dados durante quase todo o ritual. Não tem voz mais alta, não tem ator principal.

Anunciam que vão apresentar a Festa da Arara e convidam os visitantes a integrarem o grupo. É a oportunidade de cada um naturalmente encontrar a resposta para o seu questionamento, sair do lugar comum. No início acham engraçado, depois se concentram. A entrega vai fluindo.

O encerramento é invadido pelos Fulni-ô. Ninguém entendeu.

Mas o que é uma festa sem amigos?

Unem-se no ritmo dos pés levantando terra, nos sons que invocam sabe-se lá que corpo espiritual, formam um cordão. E a multidão vai atrás. 

A lua anuncia que acabou o período de visitação. A noite merecidamente pertence somente a eles. Ainda é festa, só que particular. Claro que a apresentação na Aldeia é apenas um recorte, mas quantos saberes brancos não foram construídos e outros descontruídos após a participação em uma celebração indígena?

Quantas relações sociais não estão ilustradas na fotografia dessa dança?