Educação e Diversidade: Os caminhos do novo mundo

08/07/2016 · Por Narelly Batista

Discutir educação para as comunidades tradicionais e indígenas não é tarefa simples. Antes de falarmos de leis, regulamentação do ensino e propostas à emenda escolar é preciso reconhecer as diferenças territoriais, culturais e sociais dessas comunidades.

Você já imaginou uma escola sem muros, a beira do rio ou na beira da serra, onde as crianças precisam andar pelo cerrado e atravessar o rio de canoa escolar para estudar? Essa escola existe e é feita de palha e pau a pique no meio de uma rica paisagem natural ainda preservada pelo homem no meio do Brasil Central, no Sítio Histórico Kalunga. Crianças, jovens e adultos, em sua maioria negras, atravessam o cerrado e os rios à pé, de canoa, ou em cima de caminhões para conquistar a sabedoria que lhes é exigida no papel e lhes garante ou deveria garantir um lugar ao sol nos centros urbanos, mas em sua realidade camponesa dificilmente os garante melhores condições de vida.  

Ou ainda, uma escola no meio da floresta em que não há uniformes, muros e que as crianças aprendem quase tudo a partir da sabedoria oral dos anciões, mas de uma hora para outra são enquadrados em um modelo educacional que não reconhece a dinâmica de sua cultura, tem o conhecimento uniformizado a partir de conceitos de uma sociedade branca que aplica deveres e avaliações distantes de sua realidade, além de não compreender a diversidade social e tradição desses povos? Essa escola também existe e está em muitos cantos do país dentro das aldeias indígenas.  

Este ano um dos importantes temas a serem abordados no XVI Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros é Educação. A partir da discussão sobre os caminhos necessários para a real implementação da Lei  nº 11.645/08 que estabelece a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nas redes de ensino público e privado discutiremos dentre outras coisas a cultura educacional restritiva dos centros urbanos, o acesso à universidade e os caminhos da comunidade rural e tradicional  para uma educação superior inclusiva.

O último ano foi marcado por estudantes secundarista de todo o país ocupando as instituições de ensino regular. De norte a sul do Brasil a juventude passou a reivindicar uma educação de qualidade que colocasse a diversidade cultural e social de seus pares no centro das questões. Esse movimento demonstrou a fragilidade do sistema educacional brasileiro. Isso se dá pela falta de reconhecimento desses estudantes com o modelo educacional que temos hoje. A identidade nacional é muito mais africana e indígena do que este que se apresenta nos livros e mecanismos de ensino do Brasil. E dessa forma também é muito mais relacionada a sabedoria oral dos mestres da cultura tradicional deste país.

Para discutir sobre tudo isso teremos este ano duas rodas de prosa sobre educação quilombola,  indígena e sobretudo, brasileira. A primeira é na Aldeia Multiétnica, no dia 22 e que terá a participação das lideranças indígenas presentes na Aldeia, do Pajé Karai Whera, graduado em licenciatura indígenas na Universidade Federal de Santa Catarina, coordenador da Nhemongueta, Comissão dos Caciques Guarani do estado de Santa Catarina e parte do Conselho espiritual do Caminho do Fogo Sagrado (Tataendy Rekoe) e a segunda será no Encontro de Lideranças Negras, no dia 24 e contará com a participação de Carla Marinho, Maria Lívia e Amanda Letícia do projeto De Bike Pra Escola, que tem como objetivo arrecadar bicicletas para os meninos e meninas da comunidade Vão de Almas, do Sítio Histórico Kalunga, irem ao colégio de bike. Essas crianças precisam percorrer 14 quilômetros para chegar à escola. O projeto já arrecadou 95 bikes e um valor em dinheiro para fazer a reforma delas. Além do projeto De Bike Para a Escola, a artista plástica Surama Caggiano, do coletivo Afreaka, que pesquisa desde 2014 o desenvolvimento da lei em escolas públicas, particulares, centros culturais e ongs. O historiador Douglas Belchior, que atua nos cursinhos populares da Uneafro, com foco na real inserção da comunidades negras no ensino superior público e privadas, representantes do Sítio Histórico Kalunga e do poder público.

Essas rodas de prosa fazem parte da programação tem o intuito de, com base nos saberes tradicionais e territoriais das comunidades quilombolas, indígenas e tradicionais desenvolver um novo olhar sobre educação, cultura e igualdade racial. Isso significa discutir a criação de uma nova escola sem muros e que o respeito às diferenças étnicas, raciais, sociais, de gênero e religiosas desses povos sejam caminhos indissociáveis dos processos educacionais. 

Programe-se!

Mais informações sobre a programação, aqui